MARIA É A NOVA EVA
A forma utilizada pela Igreja para
interpretar a Sagrada Escritura é a tipologia. Esta consiste em ler o Antigo Testamento
à luz do Novo e o Novo à luz do Antigo: “... o Novo Testamento está escondido
no Antigo, ao passo que o Antigo é desvendado no Novo: ‘Novum in Vetere latet
et in Novo Vetus patet’.” [1] Jesus mesmo disse: “ ‘...
era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de
Moisés, nos Profetas e nos Salmos’.” (Lc 24,44) Quer dizer, tudo que houve no
Antigo testamento foi uma preparação para a vinda do Messias, uma prefiguração
Daquele que haveria de vir. Interpretar as Escrituras através da tipologia é
fazer analogias entre as figuras bíblicas do Antigo Testamento e do Novo
destacando assim, suas semelhanças e diferenças. Através do método de tipologia
os primeiros discípulos interpretaram as Escrituras.
São Paulo em suas cartas, usando
tipologia destaca Jesus como o Novo Adão. (cf. Rm 5,12-17; 1Co 15,21-22) Vejamos
o porquê desta afirmação através deste método, destacando algumas das
semelhanças e diferenças entre Adão e Jesus: Adão foi o primeiro filho de Deus
do gênero humano, assim como Jesus, Adão foi criado a imagem e semelhança de
Deus, e Jesus também é, uma vez que é Deus, Adão foi criado sem pecado e Jesus
foi gerado sem o mesmo, Adão foi colocado como rei de toda a criação e Jesus é
o Rei dos reis, Adão é mediador e representante da primeira aliança e Jesus da
nova. Essas são as semelhanças agora vamos às diferenças: Adão pecou, enquanto
Jesus nunca pecou, Adão desobedeceu a Deus, enquanto Jesus foi obediente até a
morte, Adão nos trouxe a morte e Jesus a vida.
Portanto, sendo as coisas como são Adão um é tipo bíblico de Jesus.
Assim como encontramos Jesus prefigurado em
Adão, sua santíssima mãe foi prefigurada por Eva, a primeira mulher criada por
Deus. Assim como Eva, Maria foi criada virgem e imaculada, no entanto, enquanto
Eva ouviu a serpente e desobedeceu a Deus, Maria ouviu o mensageiro celeste e
consentiu ser a mãe do Salvador. Através de Eva a humanidade se viu aprisionada
ao pecado e à morte, mas por Maria nos veio a remissão dos pecados e a Vida. Deus
quis que “... assim como uma mulher tinha contribuído para a morte, também uma
mulher contribuísse para a vida...”,[2] por isso predestinou Maria
a conceber o Messias tão esperado e pediu seu consentimento, que por sua vez
disse: “... ‘Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua
palavra!’...” (Lc 1,38), entregando-se de corpo e alma a Deus. De fato, Maria
trouxe a Salvação ao mundo, se tornando a mãe da nova humanidade, restaurada
por Cristo.
Interpretar
a figura de Maria como a nova Eva não é algo contemporâneo, mas sim
antiquíssimo. São Justino mártir que viveu no século II, já descrevia
claramente Maria como a nova Eva[3], Santo Irineu de Lião
(130-200), discípulo de São Policarpo de Esmirna, o qual foi discípulo direto
de João evangelista, também já tinha essa concepção[4], assim como Santo Éfren da
Síria, Santo Epifânio de Salamina e Santo Agostinho Hipona, entre outros. Estes
ao apresentar Maria como a nova Eva, não faziam em forma de especulação, mas
sim como doutrina e muito bem fundamentada nas Escrituras.
[1] CATECISMO
DA IGREJA CATÓLICA. Edição Típica Vaticana. São Paulo: Edições Loyola, 1999. p.
45, parágrafo 129.
[2] Documentos
do concílio vaticano II. Constituição
Dogmática Lumen Gentium. 1ª ed. São Paulo: Paulus, 1997. cap. 8, p. 182, n.
56.
[3] JUSTINO,
São. Diálogo com Trifão 100 apud HAHN, Scott Walker. Salve, Santa Rainha. A mãe de Deus na
Palavra de Deus. 1ª ed. Lorena, SP: Cléofas, 2015. p. 40.
[4] LIÃO,
Irineu, Santo. Demonstração da pregação
apostólica 33. Tradução de Lourenço Costa. Disponível em: < http://www.compiladorcristao.com/blog/wp-content/uploads/2012/01/demostra%C3%A7%C3%A3o-da-prega%C3%A7%C3%A3o-apost%C3%B3lica.pdf>.
Acesso em: 20 de Jul. 2015.
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