O Pecado da Ira
O Pecado da Ira
ADRIANO DA SILVA
OLIVEIRA
Quantas vezes não
tratamos a ira como um mero pecadinho?
Vamos aprofundar
um pouco sobre essa realidade que nos afeta no nosso cotiando e muitas vezes
não sabemos lidar. Veremos os tipos de ira e os remédios para trata-la.
Antes de tudo
devemos ter claro em nossa mente que a ira não pode ser considerada somente
como um pecado capital. Ela se divide em dois aspectos; a ira enquanto paixão e
a ira como pecado em si mesmo. Veremos essas duas realidades da ira e
perceberemos que, muitas vezes, ela é resultado de outros sentimentos.
A IRA ENQUANTO PAIXÃO.
Para o teólogo
patrístico João Cassiano, a ira enquanto paixão não existe, para ele e para os
padres da tradição grega, considera-se como aceitável a ira somente contra o
demônio e o pecado. Santo Tomás de Aquino discorda de João Cassiano. Pois para
o Doutor Angélico a ira não é necessariamente nem boa nem má, vai depender da
ação que ela gera. Santo Tomás faz três passos para a ira como paixão:
I. Conhecimento
da coisa.
II. Julgamento
da situação.
III. A
decisão do Agir.
Para aplicarmos
esses três pontos elencados pelo Doutor Angélico, podemos reconhecer esses
pontos na ação de Nosso Senhor referente aos vendedores do templo como está
escrito no Evangelho de São João 2,13-17.
I.
Ao entrar no
templo ele toma conhecimento da situação “No
templo, encontrou vendedor” Jo 2,14a. Dirá a vulgata “ Et invenit in templo vendentes”.
II.
Julgou Nosso Senhor. O templo não deve ser
um mercado como ele adverte no final desta passagem “Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai uma casa de
comercio” Jo 2,16. Dirá a vulgata “Auferte
ista hinc! Nolite facere domum Patris mei domum negotiationis
III. Na ação Nosso Senhor faz um chicote e expulsa os
vendedores e cambistas do templo. “Tendo
feito um chicote de cordas, expulsou todos do Templo.” Jo 2,15. Dirá a
vulgata “et cum fecisset flagellum de
funiculis, omnes eiecit de templo”
Nosso Senhor, mostra-se
irado, mas a sua ira é para a correção, e Ele aplica como castigo e ensinamento
para aqueles que estavam desrespeitando o Templo, ou como Ele mesmo diz “domum Patris mei”[1], que ali não é um lugar de comercio.
Podemos ver isso
claramente em um exemplo corriqueiro do dia a dia de todos: um pai, ou uma mãe,
é tomado pela cólera por causa de uma malcriação que o filho fez e para
corrigi-lo aplica-lhe um justo castigo.
Adollphe Tanquerey
coloca em seu Compendio de Teologia Ascética e Mística: “ Há uma cólera legitima, uma santa indignação, que não é senão o desejo
ardente, mas racional, de infligir aos criminosos o justo castigo”. Ele nos
apresenta também três critérios que a ira precisa apresentar para ser
considerada justa:
I.
“Justa no seu objeto”. O castigo deve ser na
medida que a pessoa merece.
II.
“Moderada no seu exercício”. Não indo além
do que deve ser cumprido por justiça.
III.
“Caritativa na Intenção”. O intuito deve-se ser
sempre para a correção, de um erro cometido
A IRA ENQUANTO PECADO.
Quando a ira se torna
um pecado? Quando ela atinge o ponto onde o ser humano perde a capacidade de
raciocínio e age pelo seu instinto animal. O homem é tomado por um sentimento
incontrolável que, na maioria das vezes, resulta em uma ação violenta. Quantas
vezes pessoas não dizem que ficaram cegas pela ira, e acabaram por cometer
atrocidades?
Tanquerey define a ira
como pecado da seguinte forma “é um
desejo violento e imoderado de castigar próximo sem atender as três condições
indicadas”.
Para exemplificar
melhor isso tomaremos a famosa perícope bíblica, que relata a história de Caim
e Abel:
1. Adão conheceu Eva, sua mulher, e ela
concebeu e deu à luz Caim, e disse: “Possuí um homem com a ajuda do Senhor.”2. E deu em seguida à luz Abel, irmão de
Caim. Abel tornou-se pastor e Caim lavrador.3. Passado algum tempo, ofereceu Caim
frutos da terra em oblação ao Senhor.4. Abel, de seu lado, ofereceu dos
primogênitos do seu rebanho e das gorduras dele; e o Senhor olhou com agrado
para Abel e para sua oblação,5. mas não olhou para Caim, nem para os
seus dons. Caim ficou extremamente irritado com isso, e o seu semblante
tornou-se abatido.6. O
Senhor disse-lhe: “Por que estás irado? E por que está abatido o teu semblante?7. Se praticares o bem, sem dúvida alguma
poderás reabilitar-te. Mas se precederes mal, o pecado estará à tua porta,
espreitando-te; mas, tu deverás dominá-lo.”8. Caim disse então a Abel, seu irmão:
“Vamos ao campo.” Logo que chegaram ao campo, Caim atirou-se sobre seu irmão e matou-o.
9. O senhor disse a Caim: “Onde está seu
irmão Abel?” – Caim respondeu: “Não sei! Sou porventura eu o guarda do meu
irmão?”10. O
Senhor disse-lhe: “Que fizeste! Eis que a voz do sangue do teu irmão clama por
mim desde a terra.11. De
ora em diante, serás maldito e expulso da terra, que abriu sua boca para beber
de tua mão o sangue do teu irmão.12. Quando a cultivares, ela te negará os
seus frutos. E tu serás peregrino e errante sobre a terra.”13. Caim disse ao Senhor: “Meu castigo é
grande demais para que eu o possa suportar.14. Eis que me expulsais agora deste
lugar, e eu devo ocultar-me longe de vossa face, tornando-me um peregrino
errante sobre a terra. O primeiro que me encontrar, matar-me-á.”15. E o Senhor respondeu-lhe: “Não! Mas
aquele que matar Caim será punido sete vezes.” O Senhor pôs em Caim um sinal,
para que, se alguém o encontrasse, não o matasse.16. Caim retirou-se da presença do Senhor,
e foi habitar na região de Nod, ao oriente do Éden.
Nessa passagem pode-se ver em Caim todo o caminho feito pelo
pecado da ira, ele é suscitado pela inveja que tem por Abel, o Senhor alerta a
Caim sobre o perigo do pecado, mas este ignora e leva o pecado às últimas
consequências. Cego pela ira e sem a sua racionalidade, Caim tornou-se como um
animal, que ataca a outro ser para conquistar aquilo que lhe é desejado, e
desse modo ele atira-se contra seu irmão e mata-o.
Pela ira Caim foi levado a cometer um assassinato de seu irmão
Abel, e por consequência recebe como pena a expulsão da terra fértil. E Caim
experimenta a justa Ira de Deus, que o castiga justamente pelo seu pecado.
Assim como Eva foi guiada pela serpente, Caim deixou-se ser
guiado pelo instinto animal, pois a região cerebral onde a ira atua, é a mais
parte mais próxima dos animais.
REMÉDIOS CONTRA A IRA
Primeiramente devemos olhar para a parte fisiológica do ser
humano, deve-se evitar alimentos e bebidas, que excitam o corpo o humano, por
exemplo: bebidas alcoólicas. A ira, por si só, já é capaz de fazer o homem perder
a sua racionalidade, com a bebida o homem fica com o seu agir racional
debilitado, colocando-se assim em uma grande zona de risco. Deve-se, em
contramedida, oferecer ao corpo diversos meios de relaxamento.
Segundamente temos os métodos morais que se apresentam muito
mais eficazes do que os fisiológicos. O homem deve desenvolver cada vez mais a
capacidade de reflexão, para não agir pelo impulso do momento. Não querer
negociar com a ira, sempre que perceptível a sua ação, elimina-la e impedi-la
de o possuir. Desviar os pensamentos que fomentam a cólera e, considero como um
dos métodos mais eficaz, invocar o Auxilio Divino, dos santos e trazer a mente
a imagem do Cristo Crucificado, que em nenhum momento de sua dolorosa paixão,
irou-se contra aqueles que agrediam e insultavam e do alto do madeiro ainda
clamou “ Pater, dimitte
illis, non enim sciunt quid faciunt ”[2].Lc 23,34.
Bibliografia:
TANQUEREY, Adolphe. Compendio de
teologia Ascética e Mística. 6ºed.Porto- Portugal. Livraria apostolado da
Imprensa, 1961.
AQUINO,
São Tomás de. Suma Teológica Vol III, Seção I -Parte II- Questão
46-48, 2ª ed., Edições Loyola, São Paulo, 2009.
BÍBLIA. Português. A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2011
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Edição Típica Vaticana. São Paulo.
Edições Loyola, 2000
NOVA VULGATA, Biblorum Sacrorum Editio. Disponível < http://www.vatican.va/archive/bible/nova_vulgata/documents/nova-vulgata_index_lt.html>
RICARDO, Pe. Paulo. A ira enquanto paixão. < https://padrepauloricardo.org/aulas/a-ira-enquanto-paixao>
RICARDO, Pe. Paulo. Terapia da Ira. < https://padrepauloricardo.org/aulas/terapia-da-ira
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