Resenha - Cristo, Maria, a Igreja e os povos A mariologia do Papa Francisco


A MARIOLOGIA DO PAPA FRANCISCO
Victor Benincasa Borejo

Um dos grandes tratados teológicos estudados desde o primórdio da Igreja é o da Mariologia, tal estudo se revela importante, pois trata-se de estudar aquela que concebeu Jesus, que é o Verbo de Deus. Atualmente, muito ainda se diz sobre tal tema e tratado teológico, principalmente pela pessoa do Papa Francisco que hoje governa a Igreja. O livro, de Carlos Galli: “Cristo, Maria, a Igreja e os povos. A mariologia do Papa Francisco”, traz à tona tais pensamentos do sumo pontífice.
O objetivo é anlaisar qual o pensamento teológico que sustenta o ensinamento do Papa, suas raízes, qual a novidade e a continuidade com o magistério. Para iniciar tal reflexão ele toma como base, a revolução da ternura de Deus – O Pai rico em misericórdia – manifestado no rosto de Jesus Cristo e comunicada no dom do Espírito, do pontificado de Francisco. A grande novidade de Francisco é expressar tudo isso no conjunto da sua figura e ministério, orações, palavras e gestos marianos; que está expresso na sua primeira encíclica Evangelii Gaudium.
Portanto, olhar para o pontificado do Papa Francisco é a fazer um exercício de discernimento evangélico e por se tratar de um latino-americano tem como base alguns temas: Maria, a fé, a missão. Por isso, pensa uma mariologia na prática da vida do povo Cristão, em que por meio de Maria se dá o encontro de Deus com os homens.
Tudo isso, teve início na família do papa, quando ele era pequeno, com pequenas orações e por isso seu ensinamento sobre a Virgem se exprime na linguagem da oração, da homilia, do discurso, da mensagem; a linguagem da piedade popular, do povo de Deus.
Por conta disso, essa teologia contribui para a reavaliação da piedade popular como uma expressão da fé inculturada, que assume um sensus fidei fidelium de pertença ao verdadeiro povo cristão à Igreja de Deus, que já fala o Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM). Essa teologia da piedade popular vem de uma eclesiologia que pensa a relação de Igreja e mundo como uma troca entre o Povo de Deus e as culturas dos povos.
Dessa forma, o cristianismo popular é um verdadeiro canal por onde se transmite a fé, sendo a piedade o lugar teológico a partir do qual pode-se pensar a fé e a missão. Por isso, pode-se afirmar que aquilo que expressa a teologia e o Magistério se vive na piedade popular, grande exemplo disso é a piedade que se expressa pela pessoa de Maria.
Por isso, a teologia inculturada deve partir da fé encarnada na piedade, que é fruto de uma evangelização histórica e culturalmente contextualizada. Tal teologia deve buscar tornar concreto o desafio deixado pelo Concílio Vaticano II, fundamentando-se na sabedoria teologal do povo de Deus que está inserido no mundo com diversas culturas que gera uma inteligência inculturada da fé.
Essa fé, é feita de encontros pessoais, ou seja, de experiencias feitas com Cristo, porem é preciso contemplar Cristo e a Igreja partindo de Maria, da fé de Maria; pois ela foi a primeira crente a ter experiencia com o próprio Cristo. Por esse motivo, a fé da Virgem se converte na fé do povo de Deus em caminho, é o que afirma o documento de Puebla: “A religião do povo conduz de Maria a Cristo e de Cristo a Maria[1]”. Assim podemos contemplar na teologia de Francisco uma continuidade com o Vaticano II, contemplando a misericórdia divina no espelho de Maria e nela se lê a uma síntese do Evangelho.
Tais pontos, abordados, trazem uma espiritualidade popular mariana fundada na teologia sapiencial, unindo espiritualidade e pastoral, trazendo uma reflexão orante, histórica, profética e evangelizadora.
Olhar a teologia mariana do Papa Francisco é olhar as suas origens e contexto. Trata-se de uma Igreja que emerge, da evangelização de uma terra recente (se comparada com outras regiões), a Igreja regional latino-americana, que era de periferia e converte-se em centro, sem pretender ser centralizadora. Por vir dessa região, ele escolhe um seu nome Francisco, que remete a questões cruciais: os pobres e a paz.
O bispo de Roma, demonstra isso a partir da sua proximidade ao povo, no calor do trato, na simplicidade da pregação; sendo em tudo simples, assim como o povo é simples, tornando-se um entre eles. Por isso, ele tem a novidade de mostrar o rosto mariano da igreja latino-americana.
A Igreja latino-americana contempla o coração místico do povo de Deus nos nossos povos, abraçando duas imagens evangélicas: a mãe de Deus e o Deus sofredor que sofre com o seu povo. É a verdadeira experiencia do amor teologal, que está inserido na experiencia pessoal de todo o povo, que mesmo sendo vivida em uma multidão, não é uma espiritualidade de massa; é a espiritualidade encarnada na cultura dos simples.
Tudo isso, pode ser visto ao ver a fé e a devoção que o povo tem aos diversos títulos de Nossa Senhora que permeiam a Igreja latino-americana, que traz aquele que crê para o encontro pessoal com Cristo. Fazendo com que eles se sintam membro participantes da Igreja, sem serem excluídos pois o seu Deus é pobre como eles. Por isso, a piedade popular é a maneira legitima de viver a fé.
Por conta disso, para Francisco a Igreja deve inspirar-se no olhar terno e acolhedor de Maria, e ser sacramento da reconciliação em que o pobre e perdido sejam recuperados pelo encontro com Cristo, guiados por esse terno olhar mariano. Portanto espera-se que a Igreja busque esse perdido e o pobre, sendo missionária, não se esquecendo que se deve enriquecer com a enculturação oferecida por todos os povos evangelizados.
O sumo pontífice com toda a sua simplicidade, procura revelar o Homem Novo, que faz novas todas as coisas, a eterna novidade. E por conta disso chama a Igreja a anunciar essa tal novidade, a realizar o querigma. Para tanto, deve-se ter em conta que o Espírito Santo que deve inspirar e agir dando harmonia ao povo e criando o vínculo de amor. Outro fato importante é a alegria, que se produz al receber e ao dar a Boa Nova de Jesus (para que a alegria aconteça paralela a misericórdia). Por isso, é necessário se renovar nessa alegria transformadora.
Para que tudo isso aconteça, é necessário observar o Magnificat, que é fundamentalmente fundado na palavra de Deus, é exatamente essa o primeiro ponto a ser escutado, a palavra, que em seguida no remetera a misericórdia conforme o cântico mariano. E repletos pela misericórdia, coloca-se a esperança somente em Deus, que leva e coloca ao serviço.
Dessa forma, o papa, inspirado por Maria, nos chama a sair em missão, escutando a sua palavra, com alegria, e a levando pelo mundo; é o verdadeiro colocar-se em serviço.  É o exemplo que Maria nos dá ao receber do anjo sua missão de ser mãe do Salvador, saindo para servir sua prima, tornando-se a primeira discípula missionária.
Voltando-se sempre para a misericórdia, o vigário de Cristo, baseia seu pontificado exatamente nesse chamado a cuidar do outro e coloca como ícone da sublime misericórdia Maria, pois ela é a autora da nova criação, a primeira salva pela misericórdia do Pai.
Por conta disso, o povo de Deus deve ser peregrino e evangelizador, dando uma nova eclesiologia de pertença ao povo de Deus de forma concreta, uma teologia da sociedade, cultura e da história, além de ter uma teologia pastoral voltada para a missão com os povos que une a piedade popular com a opção pelos pobres destacada pelo CELAM.
É somente o povo que pode ser uma comunidade histórica, cultural e política em constante gestação, compreendendo a relação entre Igreja e o mundo, como a presença encarnada ou inculturada da fé do Povo de Deus nas culturas dos povos. Por isso, todos são chamados a crescer como evangelizadores, sendo sempre discípulos e missionários.
Para tanto a Igreja deve ser mãe, assim como Maria é, e nos foi entregue pelo próprio cristo para isso, pois ela deve educar, acompanhar e guiar a vida de fé dos seus filhos e irmãos para o Pai. Enxerga-se dessa forma, que na maternidade eclesial coloca-se toda a Igreja como mariana e que Maria é o ícone do mistério eclesial, portanto a Igreja estende a maternidade de Maria e aprende dela a maternidade espiritual.
Com isso, o papa enxerga de um modo geral a reforma que o Concílio Vaticano II como uma reforma sendo realizada e em continuidade, que deve levar sempre em conta Maria, os pobres, a misericórdia. Para que todos se tornem um novo povo, mariano, samaritano, misericordioso e solidário; levando em conta os mais pobres e rejeitados, promovendo também uma mudança na sociedade.
Deve-se passar de pessoas passivas, para responsáveis por aquilo que assume no batismo, que tem direitos e deveres, que cultivam o sentido de pertença a um povo que partilha um destino histórico comum.
Urge que, Maria, para o bispo de Roma é o exemplo de como deve ser a Igreja, como ela deve se portar e ser. Uma Igreja em saída que não fica em si mesma, mas vai ao encontro daquele que necessita, trazendo a misericórdia de Deus e a conversão para que aquele que estava perdido se torne povo. É uma mariologia baseada inteiramente naquilo que o povo crê e professa da pessoa de Maria, da simplicidade da piedade mariana do povo que chega refinamento do magistério é que a Igreja se renova e se torna mais semelhante a Cristo.



[1] DPb, n. 448.

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