RESENHA JESUS O GALILEU – SENEN VIDAL
RESENHA JESUS O GALILEU – SENEN VIDAL
Victor Benincasa Borejo
Atualmente, muito se discute
sobre o evento Cristo, principalmente no que concerne o Jesus Histórico. Um dos
grandes pensadores sobre o tema é Senen Vidal, com seu livro: “Jesus, o
Galileu”. Ele faz, nesta obra, um grande tratado sobre a pessoa de Jesus
Histórico, analisando seus atos e sua vida desde a sua relação com João Batista
até a ressureição.
Nessas breves páginas, iremos
refletir como Senen Vidal executa tal análise sobre a vida de Jesus.
Ela inicia a sua reflexão a partir do ministério
de João Batista no deserto, pois a missão do Batista tem grande relevância
histórica e direta no ministério de Jesus (por se tratar de uma certa
continuação dele). Por conta disso, faz uma grande análise deste ministério.
Tal personagem histórico tem origem de uma família sacerdotal (talvez a
comunidade de Qumran), portanto ligado já a um rito batismal de purificação.
O ministério do batista era
baseado em dois grandes elementos: a atuação no deserto e o batismo nas águas
do rio. Por isso, é no deserto que João inicia sua missão, é o sinal de uma
vida fora da Terra Prometida, como estava Israel na época que estava no Egito
(ele é o profeta do deserto), anunciando a vinda da eterna terra prometida. No
entanto o sinal definitivo de João era o batismo, pelo qual era confirmada a
conversão radical do povo e denunciada a maldade extrema.
Ao analisar mais profundamente
o ministério do batista, vê-se a esperança como ponto principal de sua atuação
e pregação, esperando um futuro imediato e iminente; era esperado a vinda definitiva
de Javé. Tal vinda não era o final da vinda do mundo histórico, por isso essa
vinda aconteceria em mundo transcendente.
A vinda anunciada por João,
deveria ter os mesmos caracteres que marca a sua atuação como profeta que
batizava, sendo o próprio batismo (rito purificador) o sinal preparatório dessa
vinda, juntamente com o ingresso na Terra Prometida. Em suma, a fé de Israel é
que o Senhor transformaria a realidade atua e marcá-la por seu senhorio, pois
ele é o dono dessa terra.
De fato, João esperava a vinda
de uma figura humana que seria intermediadora de Javé, ele se referia a ele
como “alguém mais poderoso, cujo qual, ele não é digno de desamarrar as sandálias”,
esse seria o agente messiânico. Tal agente seria aquele que mediaria a
soberania de Deus. Com a vinda desse agente, era esperado por João, a
transformação de Israel, perpassada por dois estágios: o grande juízo
purificador (juízo que destruiria a maldada); e o grande estado permanente de
paz e de vida plena do povo (grande Shalom). Ligando, dessa forma, a missão de
João ao projeto do Reino de Deus, que será proclamado por Jesus.
Destaca-se ainda outros pontos
marcantes do movimento do batista, que irão também estar presentes no movimento
de Jesus, tais como querer ser um movimento duradouro e estável, seguindo
também os moldes dos movimentos proféticos da época, por conta dos seus membros
(os que eram batizados) permanecerem com ele, formando assim, uma massa;
causando posteriormente um problema com as autoridades.
Com isso, discute-se o batismo
de Jesus. Trata-se de um dos dados históricos mais seguros, que de fato um
Jesus recebeu o batismo de João. Tal fato significa que Jesus acolheu a missão
e o projeto de João, o projeto mudar e transformar esse mundo envolto na
maldade e corrupção, tendo esperança, é o sinal do novo começo de Israel.
Por isso, a voz que advém do
céu, declarando ser Jesus o Filho amado, expressa que Jesus é o agente
messiânico eleito de Deus. Portanto, o batismo de Jesus é sinal da acolhida da
missão e projeto de João, permanecendo também, após seu batismo, em sua
companhia; mesmo João se reconhecendo inferior a ele.
Porém, com a prisão do
Batista, Jesus precisou se desprender dele e iniciar a sua própria missão de
forma autônoma. Em sua nova missão Jesus não está sem esperança, mas, ao
contrário, muito esperançoso de que Deus agirá, acelerando sua intervenção
libertadora.
Dessa forma, a missão de Jesus
traz uma novidade, aquilo que era um acontecimento futuro para João, em Jesus
já é o presente, a ruptura do antigo para o novo, o Reino de Deus, é
descobrindo esse reino que fazemos uma profunda conversão. A missão de Jesus pertence
a uma nova época, a do comprimento; enquanto a de João a uma época antiga.
Dessa forma, entre João e Jesus não há só uma ruptura temporal, mas uma mudança
do antigo para o novo. Jesus não está mais no deserto, mas no meio do povo,
dentro da cidade.
Jesus como o agente
messiânico, não pode ser entendido de forma absoluta, pois o primado deveria
ser do Reino de Deus, ele teria o importante papel de mediador, de instaurador
desse reino, a expressão “o filho do homem” expressa exatamente isso, referindo-se
ainda além do seu estado atual, ao seu destino, sua morte e ressureição, e a
sua atuação futura. Dessa forma entende-se a atuação profética e régia que
permeavam Jesus.
O messianismo profético
corresponde a etapa da missão de Jesus na Galileia e ao primeiro estágio da
renovação de Israel. Seu profetismo é diferente, pois além de profetizar,
aquilo que é profetizado se realiza, proclamando o Reino de Deus; é o
verdadeiro profeta escatológico. O messianismo régio é a última etapa da sua
missão, o reino messiânico de Israel como último estágio para o Reino de Deus,
marcam tal estágio, sua entrada em Jerusalém e a ação no Templo, expressando,
dessa forma o seu reinado.
Agora passa a tratar sobre o
Reino de Deus, muito empregado por Jesus não se tem uma definição específica do
que seja este Reino de Deus. Tal Reino sempre esteve ligado a visão messiânica,
dessa forma, não há como limitar com destreza o seu significado e abrangência.
Jesus utiliza parábolas para descrevê-lo e explicitá-lo. Sabe-se porem, pelo que
afiram ao agente messiânico que ele será universal, onde o direito, a paz, a
justiça e a ordem serão restauradas.
É por tais características do
Reino que vemos nas ações de Jesus os sinais desse acontecimento libertador,
fazendo suas refeições com os excluídos e necessitados. Mostrando,
verdadeiramente e de forma definitiva que ele é o grande sinal da presença do
Deus criador e Senhor, sendo seu intermediário e agente.
Jesus, dessa forma, toma uma
estratégia; tomar o reino de Deus como um símbolo social que visava todo o povo
em seu conjunto, expressão de um Israel total que seria renovada com a vinda do
reino messiânico. Sendo suas primeiras pregações para grupos aldeões ele pensou
que essa transformação deveria partir dali, para alcançar a todo o povo de
Israel, em seguida os gentios, fazendo surgir a comunhão entre todos os povos
da terra; seu cume seria a grande paz e plenitude da vida que todos os povos da
terra já renovados desfrutariam juntos.
Tais mudança propostas por
Jesus, exigiam também uma mudança quanto ao seu método missionário. Jesus era o
agente principal da missão, porem escolhe alguns colaboradores, outro para
espalhar a suas ideias, seus missionários.
É dessa forma, que os milagres e os exorcismos
operados por Jesus, eram sempre operados em vista do acontecimento do Reino de
Deus; por este fato, nem sempre muitos estavam presentes (excetuando alguns
casos), somente os discípulos. Sempre levando em conta o caráter libertador que
eles, por meio do Reino tinham e representavam.
Por isso, afirma-se que a autêntica cura é o perdão
dos pecados, mas o seu sinal é a cura da enfermidade; por esse fato, todo o
povo doente e dominado pelo pecado, tendo em vista o dom da libertação e da
cura completa estava representado nos enfermos. E nessas curas estava presente
a esperada redenção do povo escravo do poder do pecado.
Todos os exorcismo e curas, fazem referência ao ano
jubilar, em que os pecados e as faltas eram perdoados, além da terra ser
devolvida.
Dessa forma, com a libertação e cura do povo, deve-se
criar uma nova consciência de povo, como uma família sujeita a vontade do Pai,
o Deus da aliança. O cumprimento de tal fato, fará com que as comunidades se
renovem em sua estrutura social; a família, por exemplo, deixará de ser uma
estrutura fechada, para ser aberta, tendo como caráter principal a igualdade,
em que todos seriam irmãos, sob autoridade de um único Pai, que é Deus.
Para que isso ocorra, é necessária a missão
itinerante, para se criar um movimento local que envolveria toda a população,
fazendo surgir esse novo povo e a comunhão entre eles.
Assim de fato, tudo seria transformado, a sociedade,
as relações sociais, a economia, levando-nos a nova e perfeita aliança com
Deus, de um povo liberto por Ele, que vive a compaixão, a igualdade e espalha,
por meio da missão isso ao mundo, para que Ele também seja liberto.
Quando cresce a missão de Jesus, cresce também o
número daqueles que o seguem, o que acaba por incomodar as autoridades, que
ficam com medo de uma revolta. Tal oposição leva Jesus a compreender que sua
missão na região da Galileia já estava consumada, os acontecimentos seguintes a
isso, levaram a uma etapa decisiva. Assim como João fracassou em sua missão,
Jesus também havia fracassado. Ao morrer em Jerusalém, Jesus, prefigura uma
nova implantação do reino de Deus que tem Jerusalém como centro, um novo reino
que irá se renovar e começar em Israel, uma nova época messiânica.
A ressureição de Jesus, dessa maneira, mostra e
realiza efetivamente como ele é o soberano messiânico, inaugurando esse novo
tempo do messianismo, mesmo que o reino definitivo vier quando Jesus Cristo
manifestar a sua glória no mundo próximo a sua Parusia. Assim, Jesus anexa a
morte a sua missão, para não a abandonar, tornando-a meio paradoxal para a
realização do Reino.
Por isso, deve-se afirmar que o reino messiânico não
pode ser confundido com o Reino de Deus, embora soe estranho dizer isto. Mas o
fato é que o reino messiânico esplendoroso é uma etapa que desemborcará no
Reino de Deus, este sim, é o final de todo o processo de salvação, no qual se
manifestará aquele que “é tudo em tudo”, o Senhor da história.
É dessa forma, que o autor do livro, analisa a vida
de Jesus. Um agente messiânico que em sua vida procurou sempre seguir a sua
missão e estar em conformidade com aquilo que seria o Reino esperado, trazendo
mudança aos povos, a igualdade, a liberdade, a verdadeira salvação.
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