Publicação da resenha do Livro: A ética de Cristo
A Ética de Cristo: Uma ética que visa o coração
O
escritor e teólogo José Maria Castillo Sanchez é um sacerdote pertencente a
Companhia de Jesus (Os Jesuítas). É autor de inúmeras obras significativas para
a teologia, entre elas: Jesus – A ética de Cristo (2005); e a obra Jesus -
humanização de Deus (2009). A primeira dentre as duas obras citadas é a que
irei resenhar em seguida.
A
obra Ética de Cristo apresenta em doze breves e densos capítulos com questões
importantes acerca da ética apresentada por Jesus Cristo, mostrando que a
conduta de Jesus não compactuava com a conduta dos religiosos da época. De
imediato, afirma que no ponto de vista histórico, é necessário que aconteça uma
humanização do ser humano tendo como base a pessoa de Jesus Cristo. A ética de
Cristo tem como base o amor, a acolhida, o respeito aqueles que são diferentes,
dos que são oprimidos e que necessitam de atenção. Ele mudou a ética anterior
ao inserir novos valores a fim de conduzir a vida do ser humano ao bem comum na
sociedade. Abordando a ética por esse lado, Jesus desconcertou e escandalizou
os mestres e fariseus, aqueles que não ensinavam uma ética que conduzia o homem
ao bem, mas ao nada. Enquanto que a ética pregada pelos religiosos era
interessante apenas para eles mesmos, pois guiava os fiéis a base do
autoritarismo. Jesus em sua ética, conduzia o homem ao que é mais importante na
vida, isto é, que todos sejam pessoas melhores e que todos vivam mais felizes.
Era um homem que ensinava com autoridade, não porque possuía belos discursos,
mas simplesmente porque anunciava o que fazia. Possuía grande poder de
persuasão, pois falava de um modo simples, humilde e acolhedor, diferentemente
do que os fariseus que falavam de um modo complexo, arrogante e condenador.
Jesus manifesta um Deus que olha para o coração, ou seja, que está preocupado
com a consciência (voz interior) do homem (Mc 7,14-23).
A
obra Ética de Cristo exprime a capacidade de humanizar a humanidade. Através
das suas instruções, seremos capazes de escandalizar e desconcertar tantos
fariseus e mestres da lei de hoje. Poderemos desestabilizar tantas normas e
leis, cuja essência, são como as leis antigas das quais não eram capazes de
libertar o indivíduo dos seus sofrimentos, angústias e preconceitos. Até
porque, não acolher os ensinamentos de Jesus e não reproduzir as suas ações em
nossa sociedade, atestaremos a escolha daqueles que preferem viver sem uma
religião. Em outras palavras, “Jesus sim, religião não.”
A
grande pergunta é: O “Deus” dos fariseus é o mesmo “Deus” evidenciado por
Jesus? Enquanto os fariseus em sua consciência assumiam como verdade
(convicção) de que eram piedosos e puros, defendiam a ideia de que os homens
podiam ser justificados (justos) com suas próprias forças à medida que vivessem
o que a lei dizia. É um esforço humano para se adequar a essas leis. Por outro
lado, Jesus que era um homem livre, interpretava e colocava o seu coração e a
sua consciência nos lugares certos, isto é, ele colocava o amor e a bondade do
Pai acima de tudo, acima até mesmo do esforço humano em querer ser perfeito
moralmente. A sua pregação era aberta a todos, até mesmo aos pecadores. A vida
de Jesus se identifica com o amor do Pai e isso transborda no amor pelos últimos.
Ele recoloca a religião para o encontro pessoal com Deus. Não significa fundar
uma religião, mas iniciou um movimento de discípulos que pudessem colocar em
prática os ensinamentos que realizou. Ele se preocupou mais com as pessoas do
que com os sacerdotes do templo.
Castilho,
por ser um teólogo, não descartou o locus theologicus para desenvolver o
seu pensamento. Levou em consideração as grandes problemáticas dos dias atuais,
a saber: a bioética, política, aborto, eutanásia, assédio sexual, casamento
gay, uso de preservativos, drogas, entre outros. Isso nos leva a perceber que
conhecer a ética de Cristo, nos auxilia a responder questões tão polêmicas
utilizando as respostas que Jesus poderia conceder. Entretanto, quando nos
deparamos com interrogações tão importantes da sociedade e queremos dar as
respostas que Jesus jamais poderia dar. Se somos chamados de discípulos de
Jesus, devemos agir do mesmo modo que ele agiu. Por exemplo, quando se deparou
com a prostituta que iria ser apedrejada. O mestre não se atentou as leis que a
condenavam, mas olhou para onde ninguém era capaz de olhar, para o interior
(consciência) daquela mulher. Ação que desestabilizou todos os que já haviam
condenado a pobre mulher. De modo espetacular, Jesus mostra que veio para dar
esperança aqueles que estão desesperançosos, dar luz
aqueles que estão nas trevas, salvar aqueles que foram condenados. Se não
sabermos o que realmente é a boa nova Jesus, sem nos tornarmos seus discípulos,
jamais seremos capazes de realizarmos os mesmos atos. É necessário entrar na
escola de Jesus, para que as suas palavras possam transformar o nosso modus
vivendis do próprio Jesus. Transformar a lei nova em nossa segunda
natureza, por intermédio de uma vida virtuosa. Ao contrário disso,
demonstraremos o grande mal presente nas religiões: a desumanização do ser
humano.
A
desumanização das pessoas é o lado obscuro que se encontra nas religiões. Isso
acontece quando, determinados religiosos fechados em suas próprias crenças, buscam
o conservadorismo religiosos e o fundamentalismo religioso em si mesmo, deixando
de considerar todas as questões humanas presentes no mundo. Tais atitudes
leva-os ao fanatismo religioso. Analisando a crise presente no cristianismo, se
nota o enfraquecimento do âmbito humano e a supervalorização do âmbito
espiritual, como se um fosse mais importante que o outro. Isso se chama: desumanização.
Nem
os religiosos e nem muito menos os cristãos creem verdadeiramente na humanidade
de Deus, pois se acreditassem, certamente a vida seria muito diferente e este
mundo seria mais amável e menos desalmado. Os religiosos possuem os seus
corações endurecidos pelas observâncias e renuncias exigidas pela lei. Para que
seja possível trazer esperança à humanidade é necessário tomar o mesmo caminho
utilizado por Deus para trazer a salvação a todos, a própria humanização. Ou a
ética é ética da humanização que deve levar em consideração toda a realidade do
homem ou é uma ética que não mereça ser levada a sério. Para que isso seja
possível, antes de tudo é indispensável distinguir o que realmente é humano e o
que é desumano. O ponto chave para que seja caracterizado um ou o outro é a
cultura. Há culturas que consideram como humano que algumas pessoas tenham mais
direito do que outras, ou mais dignidade do que outras. São culturas que não
consideram a igualdade um valor humano fundamental. Em contrapartida,
observando os ensinamentos de Jesus, a vida do ser humano implica necessidades
primordiais e básicas, são os parâmetros decisivos da ética oferecida por Ele
mesmo. É a partir disso que se pode começar a construir e conceituar uma ética universal
para todos que queiram organizar as suas vidas em comunhão com a sociedade
independentemente da sua cultura. É uma ética constituída com base em um Deus
humanizado e praticada conforme esse mesmo Deus ensina que se terá uma única
ética que poderá ser aceita e que certamente terá força suficiente para
humanizar o homem e este mundo tão desumanizado.
Diante de tudo o que até aqui foi
mencionado, a obra Ética de Cristo do sacerdote espanhol José Maria Castillo
Sanchez, chama a atenção aos ensinamentos de Jesus a respeito da ética. São
pensamentos de um teólogo que não desconsiderou o locus theologicus para
apresentar fortes críticas aqueles que respondem questões polêmicas e atuais
com resposta que Jesus jamais daria. Questiona o modus vivendis dos
fariseus que buscavam ser puros e justos com as suas próprias forças, deixando
de lado a graça de Deus. Salienta que a vida de Jesus se identifica
com o amor do Pai e isso transborda no amor pelos últimos. Recoloca a religião
para o encontro pessoal com Deus. Ele, sem medo de receber as críticas dos
mestres da lei, se preocupou mais com os últimos do que com os sacerdotes do
templo.
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