O PENTATEUCO

Victor Pereira Mascarenhas


A Bíblia, como é sabido pela maioria, se não por todos, é um conjunto de livros, uma biblioteca, ou seja, mais do que um livro. É uma coleção de livros preciosos. E entre esses livros tão importantes, o mais importante segundo alguns estudiosos, é a Torá.

A Torá faz parte do cânon hebraico. Seu significado etimológico é Caminho e Ensino. A Torá, escritos sagrados, é constituída por cinco livros: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Frente a tradição judaica, como a conhecemos pelo seu rigor, um leitor moderno poderia pensar que o povo de Israel devesse conhecer a Torá. Já para os leitores do Novo Testamento talvez vê um povo apegado minuciosamente à Lei de Moisés.

Entretanto, seu acesso ficou reservado a uma minoria culta que sabia ler e escrever. Já o povo tinha outras preocupações e outras maneiras de resolver seus problemas. Por isso, a grande parte dos defensores da Lei, como aparece no Novo Testamento são os escribas.

Sobre a autoria dos escritos, a tradição antiga, sem dúvida, atribui a Moisés. Já a tradição rabínica vê essa atribuição de toda a Torá a Moisés como uma possibilidade de gerar problemas, pois, no capítulo 34 no Livro do Deuteronômio, relata a morte de Moisés. Alguns estudiosos atribuem a autoria a Esdras, o escriba que volta da Babilônia. E por fim, a Bíblia atribui ao próprio Moisés.

O Pentateuco é um conjunto de cinco livros. Este nome significa Lei e Mandamentos. Este conjunto é formado depois dos profetas. As tradições proféticas influenciam fortemente a formação do Pentateuco. Basicamente o seu conteúdo teológico é sobre a proposta da aliança entre Deus e o Homem.

Nos relatos do Pentateuco é desenvolvida a ideia de uma origem divina dos textos bíblicos no conceito do escrever. Nos livros do Pentateuco, é possível ver em momentos particularmente significativos que Moisés recebe de Deus a missão de registrar por escritos, textos importantes para a constituição do povo de Israel.

Principalmente no livro de Deuteronômio, há enfatizado no papel que Moisés deve exercer, que é de ser como “mediador inspirado da revelação e intérprete autorizado da Palavra divina[1]. E é a partir dessa ideia que se desenvolve a tradição de que Moisés é o autor do Pentateuco. Nessa obra sagrada, podemos ver um Deus que se comunica com o seu povo, mesmo que seja indiretamente, por mediação de um único homem. E o próprio Deus é a origem do testemunho bíblico.

A compreensão da Bíblia como Palavra de Deus se dá no Monte Sinai, onde constitui Moisés como único mediador da sua revelação. É a Palavra de Deus que se faz em palavras humanas. E o Decálogo é o ponto de partida da ideia de origem por inspiração divina.

O Pentateuco é o nome dado aos cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis (sobre as origens), Êxodo, Levítico (sobre a santidade e a primeira lei), Números e Deuteronômio (sobre a aliança e a segunda lei). E constituem a Lei de Moisés ou Torá.

O Livro do Gênesis narra as origens do homem e do mundo criados por Deus, especificamente no poema da criação ou credo monoteísta. E também nos apresenta a história dos Patriarcas: Abraão, Isaac e Jacó. Este livro traz como conteúdo principal os seguintes pontos:

·         Deus é o Criador de todas as coisas (credo monoteísta);

·         Deus é distinto do universo, não existe um panteísmo;

·         O mundo é bom;

·         As coisas criadas manifestam a glória de Deus;

·         O homem foi criado da terra, mas foi animado por uma alma;

·         O homem foi criado para viver na amizade com Deus;

·         O homem foi criado livre;

·         A harmonia foi destruída pelo pecado da desobediência;

·         O homem expulso do Paraíso;

·         A promessa da Redenção através da Mulher;

·         O homem foi dominado pelo pecado e o mal se generaliza (exemplo Caim);

·         A primeira aliança através de Noé;

·         Deus continua a aliança pelos Patriarcas.

O Livro do Êxodo fala sobre a ida e escravidão no Egito e também sobre o chamado que Deus faz a Moisés para libertar o seu povo da escravidão. E Deus revela-se a ele primeiro. Depois da libertação do faraó, Deus conduz o seu povo através do deserto. No Monte Sinai Deus se manifesta e realiza a aliança com o seu povo. O Decálogo, que são os dez Mandamentos, será o sinal desta aliança.

O Livro do Levítico, narra as Leis dos rituais, as leis sociais, as bênçãos e maldições e os sacrifícios oferecidos a Deus em seus diversos modos. Há também diversas prescrições referentes ao “estado de pureza legal”, devido ao grande respeito que o povo tinha a Deus e o seu culto.

O Livro dos Números, tem por esse nome devido as importantes listas de números e de nomes nos primeiros capítulos. Fala sobre o recenseamento do povo feito por Moisés no deserto. De um modo geral é uma continuação do Êxodo. As leis que aparecem neste livro, se referem à permanência do povo no deserto a caminho da terra prometida, com todas as provações e lutas. Principalmente contra os povos vizinhos da Palestina que foram contra a passagem do povo naquele lugar.

O Deuteronômio que quer dizer segunda lei, possui cinco sermões de Moisés que retomam a Lei e narra o fim da vida de Moisés. É um livro de essência religiosa e jurídica. A sua redação final é posterior a dos outros livros do Pentateuco. O texto foi ignorado por muito tempo e depois descoberto no Templo de Jerusalém (2Rs 22) no reinado de Josias (622 a.C.).

Alguns capítulos desse livro tratam das questões do amor e adoração a Deus e do amor ao próximo. Textos até citados no Novo Testamento por Jesus. O Deuteronômio é o livro que mais nos transmite a essência da religião de Israel. É o último livro do Pentateuco. E mostra que a ideia principal é a da Aliança de Deus com o seu povo (Israel).


Fontes

 

SKA, Jean-Louis. O Canteiro do Pentateuco. São Paulo, SP: Paulinas, 2016. Cap. Moisés, o escriba e o livro da Lei.

PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA. Inspiração e Verdade da Sagrada Escritura. São Paulo, SP: Paulinas, 2014.

AQUINO, Felipe. A Sagrada Escritura. 8ª ed. Lorena, SP: Editora Cléofas, 2013. Cap. Resumo dos Livros do Antigo Testamento.

[1] SKA, Jean-Louis. O Canteiro do Pentateuco. São Paulo, SP: Paulinas, 2016. Cap. Moisés, o escriba e o livro da Lei. p. 26.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RITUAL DE BENÇÃOS - CONFORME TRADUÇÃO OFICIAL DO RITUAL ROMANO.

Comentário ao Hino Cristológico de Filipenses

RESENHA LIVRO - "O SAGRADO" - RUDOLF OTTO